Os vendedores de tempo

Foto: Agê Barros, também conhecido como eu mesmo

Outro dia um amigo num papo aleatório disse uma frase que ficou na minha cabeça: "tenho investido pouco tempo em videogames". Falávamos sobre jogos e a dificuldade de sentar diante de uma tela para vencer missões de vida ou vida.

De alguma forma o termo investimento me fez compreender aquela máxima de que temos tempo, a questão é o que decidimos fazer com ele quando há escolha. Jogar? Assistir Netflix? Ler? Meditar? Rolar a tela do celular?

Recorrendo à psicologia aplicável a uma criança de cinco anos prometi a mim que poderia jogar uma(s) horinha(s) depois de atualizar algumas leituras. No primeiro texto levo uma pedrada do camarada que fundou a Dropbox.

There are 30,000 days in your life. When I was 24, I realized I’m almost 9,000 days down. There are no warm-ups, no practice rounds, no reset buttons. Your biggest risk isn’t failing, it’s getting too comfortable. Every day, we’re writing a few more words of a story. I wanted my story to be an adventure and that made all the difference.”

Drew Houston, fundador da Dropbox.

Fiz a melhor e a pior conta da vida: 365 vezes a idade atual é igual ao que já torrei de tempo disponível antes de virar adubo. O saldo é o que se estima somado ao que desejamos viver. Também chamado de tempo, esse arrogante bastardo tá nem aí pra conta. Pode durar um bocado, pode acabar daqui a pouco com uma tropicada ridícula na calçada.

Aparentemente ruim, a noção de finitude na real empodera. Afinal, quando compreendemos a calculadora de Drew Houston, we have a problem apenas se quisermos.

Somos vendedores de tempo. Comercializamos fatias de vida embaladas em minutos, horas, dias, semanas, meses, anos. Os bem sucedidos nesse business aprenderam a não cair na ilusão de estoques ilimitados. Pensam duas vezes antes de decidirem para quem a próxima fatia será vendida ou onde será investida. A limitação de determinado recurso gera consciência de usá-lo melhor.

Nessa conseguem tempo para terminar um livro trocando a rolagem infinita de tela no Facebook pela leitura de algumas linhas de cada vez. Meditam no lugar daqueles só mais dez minutos na cama. Praticam exercícios físicos e economizam tempo adoecendo menos. Passam mais tempo de qualidade com quem amam porque aprenderam a viver o agora. E não sentem culpa na hora da Netflix ou do Playstation.

Trinta mil horas no banco da vida. Pode parecer muito, mas precisa ser o suficiente visto que não há cheque especial. Agora que investi um tantinho neste texto escrito para mim mesmo vou gastar um teco de tempo combatendo inimigos perigosos no Playstation. Ou não.

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