O modo de vida das comunidades quilombolas do Vale do Ribeira baseia-se em experiência e conhecimento de causa passados de geração a geração há mais de 200 anos. Os habitantes dessas localidades usam um método de plantio chamado roça de coivara. Ele consiste em plantio orgânico e sustentável a partir do manejo de fogo e da regeneração das matas. Os produtores selecionam uma área, plantam, colhem e depois manejam aquele espaço com fogo. Essa terra é então isolada para que se regenere. Além do sustento dessas comunidades, o sistema garante a conservação da Mata Atlântica—tanto que ali encontram-se os trechos mais preservados de todo o Estado de São Paulo.

Tive a oportunidade de conhecer diferentes Quilombos da região num trabalho com o Instituto Socioambiental. O material foi produzido para a campanha #TáNaHoraDaRoça, que pedia urgência ao governo do Estado para a liberação das licenças ambientais para execução da roça de coivara. Apesar de leis federais assegurarem o direito à realização desses cultivos, havia um entrave burocrático por parte do Estado, prejudicando o tempo de plantio e comprometendo todo o sistema. A campanha buscava apoio da sociedade para pressionar o governo estadual.

Foram vários dias incríveis convivendo com pessoas com um conhecimento impressionante sobre natureza e vida em comunidade. Foi uma honra ganhar a confiança dessa gente batalhadora a ponto de almoçar uma comida de sabor inesquecível preparada pelas mãos habilidosas da Dona Leide, ou tomar um café de milho preparado na hora na cozinha da Dona Diva, no Quilombo Pedro Cubas de Cima. E, claro, poder fazer registros tão potentes e importantes dessa gente que merece respeito e admiração.