Primeira vez sem fim

Na foto, eu fora de mim.

A primeira vez que Tatá me chamou de papai eu dirigia por uma rua de Pinheiros. Custei a prestar atenção nos cruzamentos e disfarçar o choro ao mesmo tempo em que continuava a conversa com aquela que havia me escolhido como pai não havia muito tempo.

Quando Amós nasceu a última contração o mandou direto para as minhas mãos—privilégio que o parto natural nos deu. Fui o primeiro a recebê-lo nesse mundo e a chamá-lo de filho entre lágrimas e tremedeiras. Os dois momentos mais felizes da minha vida representam a melhor noção de plenitude que eu poderia ter. Estas duas criaturinhas me impedem de afundar no oceano de dúvidas, nas turbulências que a vida traz, me mantêm na superfície e mais, trazem motivação e força para buscar outras plenitudes.

Com elas o pêndulo de Schopenhauer, segundo o qual a vida é a ânsia de ter e o tédio de possuir, fica grudado no caráter insaciável da vontade. Da vontade de evoluir para prover a eles o mais nobre dos sentimentos como forma de retribuição ao pai que nasceu naqueles dois instantes mágicos de uma primeira vez sem fim.

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Onde moram as certezas